Escrevendo diálogos – Parte 1

Você achou que ao escrever seu livro, o diálogo fosse um dos itens mais fáceis de se construir, certo? Errou feio! Mesmo para os escritores experientes, desenvolver as falas das personagens num formato de história — e não de roteiro ou dramaturgia — pode ser um verdadeiro desafio, pois não envolve apenas a técnica em si, mas muitos aspectos que são esquecidos durante o processo de escrita, como a voz da personagem, o modo de falar, as emoções…

Se o seu “calcanhar de Aquiles” é o diálogo como um todo, selecionei algumas dicas que podem ajudá-lo a passar por ele sem MUITO sofrimento:

  1. Leia as falas em voz alta. Melhor ainda: leia as falas para alguém, em voz alta. Você poderá se surpreender com quantas palavras e expressões ridículas usou nos diálogos…
  2. Enquanto fizer a leitura, siga de forma estrita a pontuação que usou. Imagine-se falando o texto para alguém que está em frente a você e tente verificar se sua personagem não precisará de um balão de oxigênio ao terminar uma jura de amor… Se suas passagens estiverem muito longas, marque-as para que sejam reformuladas ou repontuadas.
  3. Preste atenção às introduções e explicações do narrador antes, entre e depois de cada diálogo. Podemos cair na armadilha de escrever algo bem parecido com isso: Paulo estava com pressa. Jogou os papéis na mesa e falou: — Ande rápido, arrume suas coisas que estou apressado. Assim, você deve ter certeza de que seu diálogo não está repetindo a “fala” do narrador e vice-versa.
  4. Evite o uso de “(…)mente” nas explicações do narrador, exemplo: displicentemente, apressadamente, velozmente, etc. Elas enfraquecem a narrativa e têm muito espaço em outros trechos que não sejam referentes aos diálogos.
  5. Por que alguém escreveria isso: — Muito prazer — ela disse. O travessão é um indicativo de fala. Não é necessário que você repita isso ao leitor. Use o recurso em diálogos que requeiram explicações cruzadas, como por exemplo, quando existem vários falantes e você anexa o nome deles à explicação: — Muito prazer — falou Maria.
  6. A palavra “e” pode ser sua salvação quando você quer que a personagem fale “e” aja, fisicamente: Maria disse, gargalhando: — Muito prazer. Tente: — Muito prazer — e gargalhou, mostrando os dentes amarelados.
  7. A maior parte de suas personagens falariam, umas às outras, da mesma forma como se conversa cotidianamente. Evite frases complexas e seja direto. Troque “neste momento” por “agora”; ao invés de “em vista do fato”, tente “porque” e assim por diante.
  8. NÃO TRANSCREVA problemas fonoaudiológicos, sotaques ou vícios que são audíveis. É impossível levar a sério um texto que traz trechos como: — Eu serr alemãm e gostarr muita de comerr frrrutas brasileirrras. Deixe a explicação para o narrador: Hans falou pela primeira vez, com um inconfundível sotaque alemão: — Gosto muito de comer frutas brasileiras.

Nos próximos posts, avançaremos nos conceitos básicos relacionados aos diálogos. Por enquanto, vá tratando do seu texto e falando em voz alta cada um dos diálogos.


Descubra mais sobre Madame Livro

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.