Tenho uma infinidade de amigos escritores que me perguntam se não seria melhor que largassem seus “medíocres trabalhos insanos” e se dedicassem 24 horas aos escritos.
Tive minhas dúvidas… Já passei do ponto de escolher, mas se pudesse voltar no tempo, talvez fizesse diferente.
Não sei se os benefícios compensam as pressões e já vou me dedicar a explicar detalhadamente meu ponto de vista. Contudo, adianto que a escolha deve ser pautada na personalidade do escritor e não na “pseudo liberdade” que a ausência de horários, chefes e agenda nos dá. Vejamos os “três” lados da moeda…
1. Tempo para escrever
O que você quer é não ter que se preocupar com outras atividades e poder escrever o quanto quiser, certo?
Pois é… Acontece que ter um dia inteiro livre não significa que você estará apto a escrever. “Coisas” misteriosas insistem em ocupar as nossas agendas e atrapalhar nossa criatividade, antes presente, justamente na hora do trabalho! Pior: você está em casa, normalmente, e tem a cozinha, a televisão, a academia, o telefone e a internet só para você e isso, bem isso, é a antítese da palavra foco, tão necessária para que você… ESCREVA!
2. Pressão
A questão aqui é séria. Você pode ter feito uma reserva para sair do trabalho e pagar suas contas até que seu livro vire um bestseller. Mas contou com a possibilidade disso demorar dois anos, por exemplo?
O estresse que uma pilha de contas causa num escritor é real. Ficar sem Assistência Médica, Vale Transporte, Cesta Básica ou qualquer outro benefício é “aceitável” nos primeiros quatro minutos, depois, é assustador.
Se puder continuar trabalhando e, ao mesmo tempo, escrevendo seu livro, faça isso. Deixe que sua conta corrente engorde com os direitos autorais (pode levar tempo, viu?) e DEPOIS saia do emprego. Esse é o meu conselho, mas se fosse bom, eu mesma teria escutado, certo?
3. Possibilidades criativas
Quer queira, quer não, por pior que seja o seu emprego, ele oferece chances de se relacionar com outras pessoas e assistir, de perto, a muitas situações que podem gerar bons motes para um enredo, ideias para personagens, diálogos, insights…
Caso saia do trabalho, seu companheiro será você. A solidão do escritor que só faz isso, não é de se desconsiderar. Começamos torcendo por uns minutos de privacidade e quietude e depois nos acostumamos a ficar fora do mundo. Não é incomum que escritores sejam os “ogros” do meio cultural, antissociais, rabugentos e muito seletivos.
Se escolheu parar de trabalhar, por favor, mantenha seus compromissos sociais em dia, obrigue-se a tomar sol e ache motivos para sair da toca, até mesmo, para ampliar seus horizontes e garimpar novas ideias.
Dito isso, torço para que você avalie sua obstinação, resiliência e tendência ao isolamento.
Agora… Se decidiu por abandonar tudo e viver o seu sonho, tem todo o meu apoio! (o que não quer dizer que eu possa lhe emprestar dinheiro… rsrsrs) Fiz isso e não me arrependo; é difícil, sim, dá medo mesmo e é assustador do começo ao fim. Cada dia é um desafio e tudo depende de você, nem mais, nem menos.
Mas espera aí? Não é disso que se trata estar vivo?
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