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O medo do não

De verdade, não conheço nenhum autor que tenha passado pelo processo de encaminhar originais às editoras e tenha recebido um: SIM! de todas elas.

Meus amigos, alunos e correspondentes passaram por vários “nãos” antes de conseguirem publicar o primeiro trabalho.

Posso dizer por experiência própria que, eu mesma, após ter publicado meus primeiros livros, também recebi um monte de “nãos” nas outras tentativas. E continuo recebendo!

Ter um livro publicado não é garantia, absolutamente, de que seus próximos trabalhos serão bons, ou melhor explicando, de que o mercado estará preparado para eles.

A pergunta que me ocorre é: por que é que artistas, em particular, lidam tão mal com a rejeição?

Pense bem: quantos vendedores de um magazine ouvem a palavra “não” diariamente? E quantas vezes isso ocorre?

Todas as pessoas que estão em vias de fechar um negócio, têm, no mínimo, 50% de chance de terem suas propostas rejeitadas. Mesmo que sejam boas, mesmo que o mercado precise daquele produto, mesmo que o comprador possa pagá-lo, que o preço seja justo, que o produto seja único.

Então, qual é o drama? Por que escritores ficam sofrendo de síndrome de exclusão quando as editoras não aceitam o original?

Por que isso leva a um estado depressivo que, muitas vezes, até mesmo corta prematuramente, uma carreira que poderia ser de sucesso?

Por que não lidar com a coisa toda pensando em termos… mais comerciais?

Ah… Essa é uma questão polêmica e pouco discutida… O brio, normalmente, não deixa que se fale sobre isso nas rodas intelectuais…

O autor choraminga porque seu original foi rejeitado. O original está sendo apresentado a uma editora porque o autor pretende que a obra seja publicada e vendida…

Assim, o texto, que inicialmente era só conteúdo artístico, está agora sendo apresentado como produto; será comercializado, é essa a intenção. Como produto, pode ser aceito ou não.

Para que tanta mágoa? Não é pessoal, é comercial. É um negócio.

Escrever pode ser arte, mas publicar é comércio. (Estou preparada para a saraivada que ouvirei dos editores… Sim, sim, entendo que há muito de arte no processo de publicação, mas, quando se ganha para fazer algo e se cobra por esse mesmo algo de quem pretende adquiri-lo, isso é, indubitavelmente, uma relação comercial)

Acho que tem a ver com um velho chavão de: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro (a frase que lascou de vez com nossas carreiras literárias, porque dá, inclusive, espaço para qualquer alfabetizado se achar escritor). “Obras”, “coisas” para a posteridade… Compreendo, mas todas essas coisas são muito diferentes entre si, ou teríamos que sair por aí vendendo crianças e cobrando para plantar árvores; quem sabe, parindo textos e mudas… Ou ainda, plantando… bem, esqueça!

Resumo da ópera: a rejeição é ao produto, não a você e ponto final.

Livre-se da culpa e continue enviando seus originais, até receber o grande “SIM”.


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