As palavras são os ingredientes mais importantes do escritor. Representam a matéria-prima do qual são feitos todos os trabalhos. Não há como deixar de usá-las e, em nosso caso, devidamente registradas, grafadas, visíveis. São concretas.
No preparo de nossos “pratos” podemos também nos utilizar de algumas essências, assim como as experientes cozinheiras e empresas que preparam coisas que queremos comer, mas que não representam efetivamente o que estamos comendo. Claro que você já viu um produto industrializado com “aroma artificial” de queijo, por exemplo. Não, não estamos comendo queijo; estamos pondo estômago adentro uma essência de queijo que só engana o cérebro, inicialmente, e às papilas gustativas depois. Nosso íntimo sabe que aquilo não é, nem será queijo!
Ao construir seu texto, atente para os ingredientes e para as essências que está utilizando.
Uma palavra absolutamente real, acompanhada de uma essência pode fazer a diferença, tanto positiva, quanto negativamente.
Quem é seu personagem? Alguém assim, “doce”, “sério”, “ágil”, “feroz”?
E a palavra que escolheu para o descrever é aquela, e só aquela, que cabe no primeiro contato com o leitor?
Proponho um desafio. Tente substituir as palavras entre aspas por qualquer outra, nos espaços em branco das frases abaixo:
A derrota, para ele, era “amarga” como jiló.
- A derrota para ele, era ( ) como jiló.
Seu beijo era “doce” como mel.
- Seu beijo era ( ) como mel.
Aquele, era um dia “perfeito”! Nada poderia sair errado numa ocasião como aquela.
- Aquele, era um dia( ) ! Nada poderia sair errado numa ocasião como aquela.
Quanto mais ele gritava, quanto mais “alto” falava, menos era notado pelo público.
- Quanto mais ele gritava, quanto mais( )falava, menos era notado pelo público.
Não é impossível realizar as modificações; esses são exemplos para que você se dê conta que a escolha faz a diferença na tônica de cada frase, principalmente, quando se trata de adjetivos.
Procure não trancar seus personagens em definições das quais ele só se livrará “na marra”. Aponte caminhos para o leitor ir descobrindo uma personalidade e não se conformando com um pacote pronto. Personagens “customizáveis”, ou seja, moldados ao gosto do leitor, são os mais carismáticos, normalmente.
Evite a armadilha de inseri-los na história como se fossem imutáveis!
Flexibilidade, visão multifacetada, diferentes abordagens de caráter e possibilidades diferenciadas de ação, darão a vida necessária aos seres que você concebeu.
Isso representa a essência, algo que não foi dito, mas antes, percebido, intuído, igualzinho quando conhecemos alguém.
Mesmo que a fama preceda o sujeito, é a nossa descoberta sobre a verdadeira personalidade do outro que nos motiva à convivência.
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