assuntos batidos

Como Escrever sobre Assuntos “Batidos” e Ainda Assim Cativar Seus Leitores

Livros vendem mais porque são fresquinhos, ou são fresquinhos porque vendem mais?
Estive pensando muito nessa questão, enquanto analisava os números do mercado editorial.
Não vou apresentar uma série de listas dos mais vendidos durante o ano, ou durante a década, mas sugiro que você comece a prestar atenção num curiosíssimo fato:

NOSSA GRANDE BUSCA POR UMA IDEIA TOTALMENTE ORIGINAL PODE SER PERDA DE TEMPO!

Explico: o que um escritor pretende quando acha a sua “mais recente excelente ideia”?
Dentre outras coisas mais objetivas, ele pretende que seu assunto seja criativo, original, não é?
Pois é justamente isso que pode induzir muitos a um erro clássico: patinar em meio a uma dezena de ideias originais e perder a oportunidade de escrever sobre o que se quer.

Minha conversa interior pode ser desse tipo: “Eu quero escrever mais um conto de Natal. Acontece que existem milhares de excelentes contos de Natal… Grandes autores discorreram brilhantemente sobre o tema… E, afinal de contas, quem quer ler mais um conto de Natal?”
E por aí, podemos seguir infinitamente, pensando em quem se interessaria por mais uma história de amor e traição, por uma história de terror, por um “segredo”, por um livro de “como” qualquer coisa…
Será que um músico deixaria de compor porque já existem trilhões de canções com o tema amor?
Um pintor não pintaria mais, porque milhares de outros já retrataram florestas?

Olhe a situação por outro ângulo: a editora de Dan Brown gastou milhões de dólares para alavancar o lançamento do Código da Vinci. Depois deste, centenas de outros livros com o mesmo assunto – a literatura periférica – foram colocados no mercado.
E agora pasme: venderam muito!
A pergunta é: por que venderam muito, se o assunto estava mais do que batido?
Simples: porque o caminho estava aberto. Milhões de pessoas que nem sabiam quem era Leonardo da Vinci começaram a se interessar pelo tema. Os outros títulos analisaram o assunto sob óticas diferentes, aprofundando-se nisso ou naquilo, mas continuando a alimentar o interesse que já havia sido gerado.

Por favor, não entenda que eu estou sugerindo que você abandone a sua arte e entre na linha comercial apenas para vender! Vender é um dos objetivos. Ou não, vai saber… Tem autor que não tem o objetivo de vender (?)…
Estou falando diretamente com você, que está travado em frente a uma folha em branco, achando que Harry Potter é a saga definitiva sobre bruxos adolescentes. Falo para quem está deprimido porque “acabaram de lançar um livro com o assunto que estou pesquisando nos três últimos anos”.

Se o seu assunto é “batido”, use a criatividade e a originalidade para a parte prática: escreva de modo original. Invista em situações e personagens inusitados. Potencialize seu texto com soluções diferentes. Esqueça o fator assunto. Concentre-se em escrever com maestria aquilo que quer transmitir.

Espero que você se dê o direito de pensar que o óbvio é possível, é vendável e está sendo esperado por algum leitor.
Além disso, concordo plenamente com Claude Lelouch que, no filme Retratos da Vida (Les Uns et les Autres, França, 1981), nos conta, através de imagens, que existem 3 ou 4 histórias diferentes… o resto, são variações sobre o mesmo tema.


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